Por Mário Augusto Jakobskind
O Presidente Barack Obama convocou para ajudar o Haiti os ex-presidentes George W. Bush e Bill Clinton. Concomitantemente, cerca de 5 mil soldados foram deslocados para o devastado país caribenho, que está recebendo doações de várias partes do mundo em função da tragédia que está sendo acompanhada pela televisão em várias partes do mundo. Até o conservador presidente francês Nicolas Sarkozy chamou a atenção para o fato, indagando se os Estados Unidos querem mesmo ajudar ou ocupar o Haiti? Lamentavelmente, são poucas as emissoras que se esforçam para conhecer a história do Haiti, o primeiro país a fazer uma revolução de escravos negros para conseguir a independência. Na verdade, a Europa, particularmente a França, que desfrutou durante muito tempo do açúcar daquele país, nunca perdoou a humilhante derrota do Exército de Napoleão, considerado até então praticamente imbatível. O tempo passou, mas o Haiti que despontava como um país libertário sofreu ao longo dos séculos uma dura investida colonial e mais recentemente imperialista. Soma-se a isso uma forte dose de racismo, sempre presente entre os comandantes ocidentais que invadiam o país, pode-se começar a entender melhor porque tanta pobreza e miséria.
O terremoto apenas agravou uma situação que já era de penúria. No pós-2004 correspondente à derrubada do presidente Jean Bertrand Aristide, o esquema de dominação contou com a colaboração das chamadas ‘Forças de Paz’ das Nações Unidas, que em seis anos de atuação só cuidaram da segurança e combater gangues. Em termos de mudanças estruturais que levassem o Haiti a usufruir pelo menos o mínimo necessário para o povo, praticamente nada foi feito. Agora, como que para demonstrar ao mundo que são “altruístas”, os mesmos países que sugaram o Haiti ao longo dos anos estão oferecendo ajuda em dinheiro, por sinal uma ajuda que nem chega a metade do oferecido aos bancos estadunidenses e europeus. Nesta fase, Estados Unidos, França e demais países só pensam numa coisa: como sugar ainda mais o Haiti. Neste ponto, deve ser lembrado que recentemente até o vice-presidente do Brasil, José Alencar, mandou o filho para o Haiti com o objetivo de estudar a melhor maneira da empresa de propriedade da família conseguir se instalar e obter lucros. A família Alencar, da mesma forma que empresários franceses e estadunidenses, só pensam numa coisa: dividir o país em zonas francas com mão de obra baratíssima. Esta é uma realidade que não se deve omitir, da mesma forma que não se pode deixar de denunciar para o mundo a estratégia do governo Barack Obama de aproveitar a tragédia e ocupar o Haiti com o envio de mais de 10 mil soldados. Afinal, se fosse para ajudar de fato, em vez de tantos militares melhor seria enviar equipes médicas e aparelhagem destinada a minorar os efeitos da tragédia. Nesse sentido vale assinalar também o papel de Israel, cujo governo enviou equipes de salvamento e médicos para ajudar o Haiti, mas ao mesmo tempo é responsável por uma tragédia humanitária na Faixa de Gaza, segundo admite o jornal israelense Haaretz, ao impedir a entrada naquela área de produtos necessários para a vida de um milhão e meio de palestinos. E isso, sob o silêncio complacente do mundo e o sinal verde dos Estados Unidos. Em relação ao Haiti, o assistencialismo puro e simples em nada resolverá a médio e longo prazos a situação dramática em que vive a maioria do povo, agora agravada com os efeitos do terremoto. O povo faminto e sem moradia vaga pelas ruas, não só de Porto Príncipe como de outras cidades a procura de alguma luz no fim do túnel, mas não encontra saída. Quando encontram pela frente restos de alguma coisa, procuram se apoderar, o que é uma reação natural de quem vive nas condições mencionadas.
Há uma onda de saques e, segundo o presidente haitiano René Préval, gangues foram rearticuladas com a fuga das delegacias de três mil presos depois do terremoto. O pronunciamento de Préval pode significar a senha no sentido de chancelar o reforço de tropas das Nações Unidas e até mesmo dos Estados Unidos para começar tudo de novo, ou seja, cuidar da segurança. Em suma: uma semana depois do terremoto, de concreto nada foi feito, a não ser promessas de ajuda em quantias que não dão nem para começar alguma tentativa de reconstrução e sem qualquer perspectiva de mudar o quadro já era precário antes da tragédia atual.