O inegável avanço das mulheres no mercado de trabalho ainda esbarra em um contracheque bem mais magro do que o dos homens. Em meio às comemorações do centenário do Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) divulgou estudo que mostra que, na média, as mulheres continuam com salários menores, apesar de terem mais anos de escolaridade.
Dados de 2009 apontam que as mulheres trabalhadoras ganharam em torno de 72,3% do rendimento médio dos homens. O número até representa uma queda se comparado aos de seis anos antes, quando elas receberam 70% do que os homens ganharam, mas, na avaliação de ativistas do movimento social, a variação é tímida demais para indicar uma reversão do quadro. “As mulheres são a maioria dos desempregados e continuam com salários menores”, afirmou a professora Deyse Oliveira, que atua nos coletivos de raça e gênero da Conlutas (Coordenação Nacional de Lutas), durante debate provido no Sindsprev-RJ pela Secretaria de Gênero, Raça e Etnia, com apoio da Sócio-Cultural. .
A disparidade entre o que eles e elas ganham acontece mesmo com a mulher tendo mais qualificação e escolaridade do que o homem. Segundo o IBGE, 61,2% das trabalhadoras possuem 11 anos ou mais de estudo. Isto é, concluíram ao menos o ensino médio. No universo masculino, este percentual é de 53,2%. O rendimento médio feminino é inferior ao dos homens mesmo tendo-se uma parcela maior de mulheres com nível superior trabalhando (19,6%, frente a 14,2% entre os homens).
A diferença também persiste quando analisados extratos mais homogêneos da população trabalhadora. O rendimento masculino é maior mesmo entre pessoas que chegaram à universidade. “Verificou-se que nos diversos grupamentos de atividade econômica, a escolaridade de nível superior não aproxima os rendimentos recebidos por homens e mulheres”, diz o texto de apresentação da pesquisa do IBGE, feita com base na Pesquisa Mensal de Emprego (PME)2009, realizada nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre.
No setor “comércio”, por exemplo, em segmentos com escolaridade de 11 anos, os homens recebem em média R$ 616,80 a mais do que as mulheres. O quadro piora para elas dentro do grupo dos que têm nível superior. Nessa camada da população que trabalha no comércio, a diferença a favor dos homens é de R$ 1.653,70 mensais.
Para Deyse Oliveira, esse cenário traçado pelo IBGE pode ser observado no magistério. Segundo ela, é na educação básica, que deveria ser o alicerce da formação escolar da criança, que se encontram tanto mais mulheres – a esmagadora maioria – quanto os menores salários. “São os professores mais desrespeitados, que trabalham mais e que ganham menos”, afirma. “A lógica que está por trás disso é a lógica da mucama”, critica. “À medida que vai subindo [no nível escolar], e diminui a presença de mulheres, o salário aumenta”, constata.
O problema da disparidade salarial que persiste também foi destacado na passeata conjunta dos movimentos sindical e sociais que ocupou a avenida Rio Branco, no Centro do Rio, no final da tarde da segunda-feira 8. Ao mencionar o problema quando falou, em nome do Sindsprev, do carro de som da manifestação, a servidora Maristela ressaltou que a precarização das condições de trabalho atingiu mais fortemente as mulheres. “Hoje somos parte fundamental da classe trabalhadora, e sustentamos sozinhas muitas famílias, mas somos a maioria entre os mais pobres do mundo. Trabalhamos, em grande maioria, em empregos terceirizados, nos quais não há garantia de nenhum direito social”, criticou. Disse ainda que, no sistema capitalista, a opressão contra as mulheres está a serviço da busca incessante por mais lucro.