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02/04/2010 - Violência levou Glauco, cronista da neurose humana (e urbana)
Cartunista dizia que pelo humor era possível falar de coisas como miséria, medo e paixão

Por Hélcio Duarte Filho

O mundo ficou mais triste no dia 13 de março de 2010 com a morte de Glauco. Assassinado junto com o filho, Raoni, o crime chocou o país. Cartunista e quadrinista cuja obra foi marcada pelo tom libertário e crítico, formou com os colegas Laerte e Angeli um trio que fez época com "Los Três Amigos", marco da década de 1980. Dentre seus personagens mais conhecidos, estão Zé do Apocalipse, Casal Neuras, Geraldão e Geraldinho.Cartunistas lamentaram a morte do colega e amigo. "A primeira pessoa que recebeu ele em São Paulo fui eu. Ele dormiu na minha casa, comeu da minha comida, paquerou a minha mulher [risos], ele teve uma participação intensa na minha vida. Perdi uma boa parte da minha história com a morte do Glauco", lamentou Angeli. Embora sua arte tenha rompido com o politicamente correto e com a obrigação da crítica social, Glauco acreditava que com o humor poderia tocar as pessoas com temas nada engraçados. "Pelo humor é possível falar sobre coisas sérias, como a condição humana, a miséria, o medo, a prisão. É algo seríssimo", disse em abril de 1986.                                                                                                                                                                    Ao comentar o seu livro “Abobrinhas da Brasilândia”, um ano antes, resumiu a obra como “uma homenagem à capacidade do brasileiro de engolir abobrinhas; nenhum outro povo seria capaz de engolir tanto". Sobre Geraldinho, um de seus mais conhecidos personagens, disse que “é o retrato da criança que mora na cidade grande e consome tudo o que vê, como Geraldão. Por isso, tem quatro braços, três pernas e segura sorvetes e hot-dogs". Em 2002, ‘seguindo’ Angeli, tentou, em vão, liquidar Geraldão. "Tentei matá-lo de todas as formas na época em que o Angeli deu um fim na Rê Bordosa. Dei até soda cáustica para ele beber, mas o efeito foi o contrário: ficou doidão!".Para Gonçalo Junior, autor de “Guerra dos Gibis”, Glauco surgiu “para avacalhar” tudo. “Riponga, alucinado depois de ler ‘A Erva do Diabo’, de Carlos Castaneda, criou Geraldão, em 1981, e trouxe uma alternativa ao humor: a de rir de todo o rescaldo que havia de comportamento depois da verdadeira revolução sexual e da falsa revolução militar. Ele foi fundamental para a modernização do humor gráfico no Brasil e deu o tom para a renovação que viria a seguir na televisão e no cinema”, escreveu em artigo.  Sobre “los três amigos”, disse, citando o produtor Toninho Mendes, que “eram videntes e visionários” e nunca levavam nada a sério, nem a si mesmos. “Assim, não seria exagero dizer que Angeli, Laerte e Glauco estariam mais para os Três Patetas, no melhor sentido do termo. Essa parece ser a explicação para se compreender o quanto eles jamais serão separados na sonoridade da junção de seus nomes. Nem mesmo pela morte”, concluiu.No blog de Laerte, fãs expressaram o significado da perda do cartunista: “Se Maurício de Souza foi minha infância, Glauco, Angeli e Laerte foram minha adolescência... É um caso que não se dá os pêsames somente à família, mas a todos os brasileiros que tiveram contato com sua obra”, escreveu Cassio Amador.                                                                                                                            



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