Amanhece dia 2, nem é fevereiro, Dia de Iemanjá. Os versos de meio de ano ainda estão na garganta, a quadra lustra o cimento na cor da escola.
O samba pulsa forte no Rio
Amanhece dia 2, nem é fevereiro, Dia de Iemanjá. Os versos de meio de ano ainda estão na garganta, a quadra lustra o cimento na cor da escola. No pagode improvisado, as mesas fazem trincheira, interditando a porta do bar. O cavaco arranhado a palheta dá o tom.
- Hoje é 2 de dezembro, Dia Nacional do Samba!
Agô, João da Baiana! ‘Bença’, Clementina! Salve, Monarco, Sargento e Zeca Pagodinho! Um bem imaterial, o samba pulsa forte no Rio de Janeiro.
O trem lotado abre na roleta o riso escancarado do passista anônimo. Ele vem desfilando desde a gare, interrompe o trânsito na Presidente Vargas e cadencia o hino deste enredo: “Samba, agoniza, mas não morre...”.
Um bandolim emprestado dos choros cariocas sola a melodia de ‘Feitio de Oração’, o ritmo aumenta a caminho de Oswaldo Cruz quando a percussão repica o início de ‘A Batucada dos Nossos Tantãs’, e a comunhão está formada.
A data é pra comemorar, já é quase feriado, o mapa da cidade ganha forma de pandeiro, onde as platinelas refletem o alto das comunidades. Na verdade, o samba se ajeita cotidiano. Domingo tem Cacique de Ramos, tem Tia Doca. Segunda é Samba do Trabalhador. Na terça, Serginho Meriti e, quarta-feira, o cozido é o prato de resistência de uma roda no Recreio dos Bandeirantes.
Todo sábado tem feijoada na agremiação, a Velha Guarda entra com chapéu de aba curta, o repertório é nobre, clássicos que emocionam grisalhos e meninas com sandálias de dedo. Salve, Candeia! Sim, hoje é o Dia Nacional do Samba, samba que doeu nas costas de Donga, da Tia Ciata. Samba hoje coroado no Itamarati.
No abre-alas de Ismael, Cartola e Paulo da Portela, um surdo de marcação conduz a história desse sentimento. O alfabeto de Ary, Arlindo e Almir Guineto, segue Bide, Bezerra e Bira Presidente, avança com Cartola, Casquinha, Dona Ivone, Diogo, Elton Medeiros, Franco, Guilherme de Brito, até se curvar por Luiz Carlos da Vila, Leci, Marçal e Zuzuca.
É a força popular de medalha no peito.
Dia Nacional da Consciência Negra.
Dia Nacional do Samba: “Cabô, meu pai. Cabô!”.
Moacyr Luz – compositor, sambista e cantor