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08/12/2010 - Uma carta para a presidente
Passadas as eleições, iniciado o processo cuidadoso da escolha da equipe da administração de V.Excia.

 

            Uma carta para a presidente
                     Dilma Rousseff      
              Prezada presidente eleita do Brasil,
              Passadas as eleições, iniciado o processo cuidadoso da escolha da equipe da administração de V.Excia., analisado o quadro econômico e as limitações orçamentárias diante da dimensão das exigências da realidade brasileira, diríamos que os fatos se impõem. Por maior que seja o Brasil e sua importância dentre os demais países do mundo, não se deve descurar das prioridades que um plano de governo precisa delinear. Uma coisa foram as promessas alardeadas no calor da campanha; outra, a realidade do chão onde se pisa.
              De saída, o que se quer – e esta é a vontade expressa de V.Excia. – é evitar que logo no início de seu governo seja aprovado um Orçamento que venha a provocar um buraco nas contas públicas. Sabemos dos riscos potenciais nesse sentido. O cobertor é curto, mas ele começa a ser puxado por todos os lados. Senado e Câmara dos Deputados se mexem para aprovação do aumento dos vencimentos e das vantagens teoricamente inerentes às funções parlamentares. No Judiciário e em outras áreas da administração é a mesma coisa. E nunca se tem em vista as prioridades,mas os interesses até antinacionais dos que só querem tirar partido das facilidades do acesso ao poder.
              Mas V.Excia. foi eleita para presidir um país cuja marca principal tem sido as suas extraordinárias contradições. Aparar arestas políticas, econômicas e sociais e buscar o equilíbrio nesse mar de interesses inesgotáveis será duro exercício presidencial de V.Ecia.. E, nesse cenário, terá de desenhar a imagem do seu governo, que será além ou aquém dos demais, na medida em que seja possível tomar, com mão firme, o planejamento e a escala das prioridades.
              No conjunto, terá de deixar que a economia se tonifique, amplie as suas possibilidades de funcionamento, flua em favor das atividades produtivas, crie as condições para melhoria dos investimentos para a saúde, educação, equipamentos urbanos, saneamento básico, habitação, e aumente os postos de trabalho, com a consciência de que é o trabalho o fator mais importante para a redução dos bolsões de miséria que ainda subsistem no País. Erradicar a miséria e a pobreza não se faz com medidas paliativas e assistencialistas, senão através da dignidade que o trabalho, o serviço ativo e contínuo, pode proporcionar.
              A senhora disse em seu primeiro pronunciamento à Nação: “A reforma tributária é a reforma das reformas. Vamos manter um ritmo de crescimento que vai aumentar a arrecadação, vai possibilitar certas reformas, sem comprometer a capacidade de gasto do Estado. Faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação e atenuação da tributação e pela qualidade dos serviços públicos”.
              Pois bem, o que a sociedade espera de V.Excia. é que mantenha esses postulados. Priorize os investimentos que produzam retorno para o conjunto da sociedade. Crescimento deverá ser a palavra de ordem. Mas, com prioridade. Hoje se fala, por exemplo, do trem-bala e da criação do Etav, a empresa estatal que cuidará da construção e operação do Trem de Alta Velocidade. Cabe a V.Excia. examinar os prós e os contras, tanto deste quanto de outros empreendimentos questionáveis.
              Num país com uma rede rodoviária, ferroviária, metroviária, aeroportuária e portuária, deplorável e de saúde pela hora da morte, falar em trem-bala, que segundo as estimativas mais generosas, pode custar mais de R$ 50 bilhões, parte desses recursos, incluindo subsídios, pagos com dinheiro público, é não levar em conta as prioridades que um governo democrático deve considerar. As nossas esperanças para um governo equânime, harmônico, de alianças em favor de uma melhor estrutura social, repousam no equilíbrio de que V.Excia. será capaz de estabelecer. O governo de V.Excia. deverá levar em conta a medida das expectativas da sociedade.
 
                                                                  Revista O Empreiteiro - Editorial
                                                                             Outubro de 2010                      


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