*Por Gilberto Alcântara
Seja por culpa de administrações desastrosas que apenas vislumbravam um projeto político mínimo (e não um projeto nacional definido), seja pela timidez da empresa privada, que pouco ousa em investir na ampliação e diversificação de sua capacidade produtiva, o Brasil sempre ficou a mercê das imposições determinadas pelo capital financeiro internacional. Desse modo, sem rumo e prumo determinado, esses agentes econômicos procedem tal qual os acordes do samba de Zeca Pagodinho - “Deixa a vida me levar”. Quando a sobrecarga das demandas arrombam a porta da casa, gerando caos na vida cotidiana dos grandes centros urbanos e nas cidades com mais de 100 mil habitantes — ressaltando nossas carências infra-estruturais — as autoridades correm tentam colocar uma taramela na porta arrombada. Segundo o economista Carlos Lessa, o Brasil “é uma nau sem rumo no oceano da globalização. A crise mundial não parece ter dado início a nenhuma mudança de rumo. Alguns produtos primários continuam tendo preços especulativos e conferiram aos anos Lula uma bonança nas contas externas e sucesso no controle da inflação; esse resultado foi obtido sem mudança estrutural relevante”. “A promessa para o futuro repousa no pré-sal, porém permanece a dúvida de nos convertermos ou não em exportadores de óleo cru. Nesse caso, a República Velha (que foi embebida em café) será recomposta em mais uma nação periférica e infeliz, de soberania curta, pasto prioritário da geopolítica imperial”. Ainda de acordo com Lessa: “A política econômica, monetária e fiscal sacrifica o investimento público. Para o Brasil crescer 5% ao ano, nossa taxa de investimento deveria ser de 23% a 24% do PIB. Em 2010, cresceu um pouco (de 18% a 19%), reflexo de um ano eleitoral, de uma retórica euforizante e de algum investimento público pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para 2011, a palavra de ordem da nova presidente é cautela com os gastos, e seus novos ministros da área econômica já se declararam pelo corte parcial do PAC. Existem gigantescos restos a pagar”. Especialmente para nós, que habitamos o Rio de Janeiro, em 2010, face ao caráter de ano eleitoral, foi realizada uma ação vigorosa para atender a demandas que há muito arrombavam a porta da casa. Demandas que tornavam a cidade caótica em termos de segurança pública e que comprometiam, seriamente, futuros investimentos, como os empreendimentos necessários para a realização da Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Visando colocar a taramela na porta arrombada, após décadas de desmandos e inércia, o país se prepara para dar o primeiro passo rumo à renovação do transporte público nas grandes cidades. Para os próximos anos, os investimentos previstos se aproximam de R$ 30 bilhões, distribuídos em dois programas coordenados pelo Ministério das Cidades: o PAC da Mobilidade Urbana e o PAC 2. Voltado exclusivamente às 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, o PAC da Mobilidade Urbana disponibilizou R$ 11,48 bilhões para 47 projetos. Deste montante, 67% serão financiados pela União com recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Este programa tem como meta integrar aeroportos, hotéis e estádios, preparando as capitais para receber os turistas do Mundial. Inclui os VLTs de Brasília e Fortaleza, os monotrilhos de São Paulo e Manaus, 20 BRTs (vias expressas para ônibus), além de intervenções de menor porte. O PAC 2 se concentra basicamente na construção e ampliação de metrôs, deixados de fora do PAC da Copa porque, segundo o governo, não ficariam prontos antes do evento. Quatro grandes regiões metropolitanas que há tempos cobram recursos federais para rede devem ser contempladas: Belo Horizonte, Salvador, Porto Alegre e Curitiba. O programa deve incluir também a construção de mais BRTs e VLTs nas diversas capitais, além de intervenções que beneficiam cidades menores, como recapeamento de vias. Independente do corte no orçamento previamente anunciado pelos ministros da área econômica da presidente Dilma, a sobrecarga das demandas, de um lado, e as grandes obras de infra-estrutura já contratadas – como Usina Nuclear Angra III; Usinas Hidrelétricas de Jirau (rio Madeira) e Belo Monte (rio Xingu); a transposição do rio São Francisco; além dos empreendimentos previstos no pré-sal – imporão um limite aos cortes dos gastos públicos. Assim sendo, destarte a crise mundial do capitalismo, atingindo especialmente os países do hemisfério norte, e a medidas de caráter restritivo do novo governo, a sobrecarga das demandas propiciará ao setor de engenharia consultiva uma perspectiva de pleno emprego nos próximos cinco anos. *Gilberto Alcântara é Diretor do Sintcon-RJ