Deputados federais que às vésperas do Natal passado aprovaram um aumento de R$ 10 mil para eles próprios votaram com o governo, no dia 16/02, para limitar o reajuste do salário mínimo a R$ 35,00, valor quase 300 vezes menor em termos nominais. Eles derrotaram duas propostas que estabeleciam reajustes um pouco maiores para os menores salários do país - aumentos de R$ 50,00 e R$ 90,00. As emendas rejeitadas fixavam os salários em R$ 560,00, defendido pela maioria das centrais sindicais, ou R$ 600,00. Pelo texto enviado pela presidente Dilma Rousseff ao Congresso, o salário ficará em R$ 545,00 – ela foi vitoriosa na Câmara, por 361 votos a 120 (placar da votação em que a emenda de R$ 560,00 foi rejeitada). Ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e relator do projeto, o deputado Vicentinho (PT-SP) foi vaiado por sindicalistas e aposentados que se encontravam nas galerias da Câmara ao ler o seu parecer, favorável à proposta do governo. A matéria vai agora ao Senado Federal, onde deve ser em breve apreciada. A contradição de votar R$ 35,00 para quem recebe salário mínimo enquanto reajusta o próprio vencimento em R$ 10 mil foi exposta na manifestação unificada dos servidores públicos, estudantes e trabalhadores da iniciativa privada, realizada no gramado do Congresso, na manhã do mesmo dia 16. Os mesmos jornais da chamada grande imprensa que tanto criticaram a proposta de um aumento maior para o salário mínimo — alegando que isso ‘estouraria as contas públicas’ — não dizem o mesmo quando o Brasil paga, anualmente, mais de R$ 350 bilhões de dólares de serviço da dívida com banqueiros e especuladores. Nem quando bancos, grandes empresas e latifundiários são paternalmente socorridos pelo Estado brasileiro através da rolagem de suas dívidas ou de novos empréstimos ainda mais generosos que os anteriormente contraídos.