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19/12/2011 - Crise atual coloca para a humanidade o dilema de superar o capitalismo ou perecer na barbárie
Povos do mundo inteiro devem rejeitar a tentativa dos governos neoliberais de lhes impor o ônus da atual crise.

Por André Pelliccione

O presidente dos EUA, Barack Obama, quando de sua visita ao Brasil, em 2011

Foto: Valter Campanato_ABr 

Em 1929, a quebra da bolsa de valores de Nova York sinalizava a existência de uma grave crise capitalista mundial, capitaneada pela economia norte-americana, já então a mais poderosa do planeta. Naquele fatídico ano [1929] e nos seguintes, a crise teria efeitos devastadores. Da noite para o dia, milhares de empresas foram à falência, a produção industrial despencou, fortunas foram reduzidas a nada e milhões de trabalhadores perderam seus empregos, numa depressão econômica sem precedentes na história do capitalismo. Em linhas gerais, a crise foi o resultado perverso da combinação de sobreprodução — ou seja, produção de bens materiais acima da capacidade de absorção nos mercados consumidores — aliada à especulação financeira desenfreada. Na conjuntura de então, a contradição entre o desenvolvimento máximo da capacidade produtiva da economia, por um lado, e o progressivo encolhimento dos mercados existentes, por outro, chegara a seu limite, como numa panela de pressão prestes a explodir. Nesse sentido, a quebra da bolsa de valores foi apenas o sintoma mais aparente de graves problemas estruturais cuja solução não seria mais possível nos marcos do próprio capitalismo, o que guarda certa semelhança com a crise atual, apesar das grandes diferenças de momento histórico entre as duas épocas (1929 e 2011) e respectivas crises.

Roosevelt e o ‘New Deal’ nos EUA

Com o aprofundamento da crise de 1929, os governos das principais economias capitalistas (EUA, Grã-Bretanha, Alemanha, França etc) implementaram medidas e políticas emergenciais, a maioria delas incapazes de ‘reverter’ a grande depressão. A mais conhecida dessas políticas, e de maior dimensão, foi o chamado ‘New Deal’, adotado em 1933 pelo então recém-eleito presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt. Baseado nas teorias do economista britânico John Maynard Keynes — que preconizava a intervenção do Estado na economia, de modo que se administrasse o mercado para obtenção do ‘pleno emprego’ — o ‘New Deal’ foi um programa de fortes investimentos em obras de infraestrutura (como estradas, hospitais, escolas, saneamento etc). O objetivo era gerar empregos em grande escala e, por meio do aumento da massa salarial, fazer a ‘roda da economia’ girar novamente, numa espécie de ‘circulo virtuoso’ de consumo-produção-consumo. Num primeiro momento, ou seja, de 1934 a 1936, o ‘New Deal’ realmente atenuou os efeitos da crise, dentro e fora dos EUA. Em 1937, no entanto, mais uma vez a crise de sobreprodução capitalista se fez presente, gerando desaquecimento e estagnação da economia. A crise de 1937 era, na verdade, a mesma crise de 1929, que, por não ter sido solucionada em suas determinações estruturais, voltara à tona.

A Guerra como ‘solução’ para a crise capitalista de 1929

A ‘solução’ encontrada pelo modo de produção capitalista para assegurar sua reprodução em nível global foi então a eclosão da II Guerra Mundial, muito mais destrutiva que a primeira e, como tal, sem precedentes na história da humanidade. Pela primeira vez, era engendrado, nas economias centrais do capitalismo, um maciço processo de destruição de forças produtivas e estoques de produção, com perdas de milhões de vidas humanas, permitindo, após seis anos de conflitos, que essas mesmas economias ‘voltassem’ a crescer por meio de sua ‘reconstrução’ no pós-guerra.  Em certo sentido, o poder de destruição das guerras mundiais confirmou os pressupostos centrais da teoria marxista, segundo os quais a reprodução capitalista se faz por meio de um processo de destruição geral de forças produtivas e estoques de riqueza material concreta.Essas conclusões podem ser tiradas a partir da leitura de duas obras de importantes autores marxistas: ‘A Crise Completa’, do professor Lauro Campos; e ‘Crises Econômicas do Capitalismo Contemporâneo’, do economista thecho Pavel Rapos. Nesta última, Rapos inclusive apresenta um histórico do comportamento do Estado durante as crises cíclicas do capitalismo, demonstrando o crescimento exponencial da dívida pública durante a eclosão dessas crises, como parte do aumento dos gastos militares do império estadunidense e dos países europeus em suas guerras de destruição e das intervenções estatais realizadas para salvaguardar os interesses do capital privado e das finanças, como no momento assistimos acontecer nos EUA com o socorro bilionário de Barack Obama a bancos e empresas.

Crise atual é de ‘novo tipo’ e sem precedentes

No momento, vivemos a maior crise capitalista da história. Suas diferenças em relação à de 1929, contudo, são imensas, começando pela própria característica da economia. Ao contrário de 1929, a potência produtiva atual excede em milhares de vezes à dos anos 20/30 do século passado, tornando ainda maior e mais profunda a crise de sobreprodução. Uma outra característica marcante da atual crise é o excesso de liquidez (em moedas ‘legal’ e ‘escritural’ sem lastro) em escala global, combinada a movimentos especulativos sem precedentes e inimagináveis para os padrões do capitalismo nos anos 20. Mas um dos elementos mais decisivos da crise atual talvez seja o aprofundamento da contradição entre a produção capitalista, em seu modus vivendi de consumo, e a crescente degradação ambiental. É que a forma atual da produção capitalista já ultrapassou em muito a capacidade de regeneração do planeta, conforme já comprovado por estudos científicos de credibilidade internacional. O que, desde já, coloca a humanidade entre duas opções derradeiras: ou o capitalismo, com seus padrões de consumo insustentáveis; ou a vida. Pelo exposto, podemos afirmar que a crise atual é ‘de novo tipo’ e sem precedentes, em todos os sentidos.

Impossibilidade de guerra global e novas armas

Afora suas diferenças intrínsecas, as crises capitalistas anteriores à atual também se distinguem pelo contexto histórico. Para ser mais específico, ao contrário da primeira metade do século XX, já não é mais possível, nas condições geopolíticas atuais, uma guerra inter-imperialista global (quer convencional, quer nuclear) para destruição em massa de forças produtivas e riquezas, condição essencial para a ‘superação’ da crise capitalista segundo a lógica destrutiva do atual sistema. Uma lúgubre possibilidade debatida por especialistas em geopolítica é a de alguns países pesquisarem e utilizarem ‘novas armas eletromagnéticas’ — algumas com capacidade até mesmo de ‘modificar’ o clima e o meio-ambiente, conforme reportagem da TV Record sobre o tema, exibida em setembro deste ano — num cenário apocalíptico de disputas envolvendo espionagem, contra-espionagem e ‘guerra encoberta’ entre governos e grupos de poder, com finalidades econômicas e estratégicas inconfessáveis. E com a morte de milhões de  inocentes em todo o mundo. À humanidade resta tomar a si as rédeas de seu destino, rejeitando a barbárie capitalista e não aceitando ser chamada a pagar o ônus da atual crise. A única possibilidade de sobrevivência para todos é a superação definitiva da sociedade baseada no lucro e na especulação.                                                                                                               

 



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