Por André Pelliccione
Em tom de desabafo e muita indignação, centenas de militantes de movimentos sociais, sindicatos, centrais sindicais, partidos políticos e entidades da sociedade civil no Estado do Rio ocuparam o Largo da Carioca na segunda-feira 23, em solidariedade às quase duas mil famílias barbaramente expulsas do Pinheirinho (SP) no último domingo (22), durante ação promovida pela PM do governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Com o mote ‘Somos todos Pinheirinho’, o ato do Rio foi, na verdade, parte de um conjunto de manifestações nacionais convocadas, já na tarde de domingo (22), pela CSP-Conlutas. Na mesma hora em que a manifestação do Rio acontecia, eram realizados atos públicos em Belo Horizonte (MG) e Nova Iguaçu (RJ). Nesta terça, 24/01, outras manifestações estão previstas para São Paulo capital e cidades do interior paulista. A expectativa é de que, nos próximos dias, novas manifestações sejam organizadas, sinalizando o repúdio à brutal desocupação do Pinheirinho.
‘Vamos lutar e ocupar o que é nosso’
Com um carro de som no centro da Carioca, os manifestantes do Rio não deixaram a peteca cair na hora de expressarem sua indignação. “É essencial, neste momento, que denunciemos as agressões cometidas pelo governo de São Paulo contra os moradores do Pinheirinho, que foram brutalmente despejados de suas casas, numa ação desumana. No Brasil, o povo precisa se organizar e lutar pelos seus direitos. Nas cidades, nas ruas, no campo, vamos lutar e ocupar o que é nosso de direito”, afirmou o diretor do Sindsprev/RJ Antonio Oliveira de Andrade, que representou o Sindicato na manifestação.
Não à criminalização dos movimentos sociais
Falando em nome do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade), o vereador Eliomar Coelho também não poupou críticas à brutal ação policial em São José dos Campos, onde centenas de moradores do Pinheirinho foram agredidos com cassetetes, balas de borracha e bombas de efeito moral. “O que aconteceu no Pinheirinho faz parte de um grande projeto das classes dominantes para garantir a reprodução de seus interesses econômicos. Aqui no Rio também não é diferente, pois vemos projetos do setor imobiliário que estão por trás dos grandes eventos esportivos que, ao final, vão retirar ainda mais direitos da nossa população”, disse, sendo bastante aplaudido.
Dirigente do Sepe-RJ (Sindicato Estadual dos Profissionais em Educação), a professora Vera Nepomuceno pediu aos presentes que a acompanhassem em sua fala: “O que aconteceu no Pinheirinho — disse — não pode passar despercebido. Para os poderosos, as crianças, idosos, jovens e pessoas com deficiência cometeram um único crime, que é o de serem excluídos, de não terem o Estado ao lado deles. Ter que ir além da solidariedade ao Pinheirinho, temos que passar à ação nas ruas, passeatas, no Ministério Público, redes sociais. É a ação de todos os que querem lutar”.
Somos todos Pinheirinho
“Hoje, aqui e agora, somos todos Pinheirinho, como também somos todos ‘Alemão’ [em referência ao Morro do Alemão], Morro do Bumba e cada ocupação, urbana ou rural, onde se luta por justiça”, afirmou Miguel Malheiros, militante do PSTU. Em conversas informais com a reportagem do Sindsprev/RJ, vários outros militantes presentes ao ato no centro do Rio manifestaram preocupação com o aumento da criminalização dos movimentos sociais. Para esses militantes, está sendo constituído um Estado Policial no Brasil, cuja característica seria a de atacar e destruir, com virulência sem precedentes, qualquer mobilização de origem popular e proletária.
Entre representantes de organizações políticas, sindicatos, entidades e partidos, participaram da manifestação no centro do Rio militantes da CSP-Conlutas, MTL, OMP (Organização Marxista Proletária), ANEL(Associação Nacional dos Estudantes Livres), FIST (Federação Internacional dos Sem-Teto), PSTU, PSOL, PCB, Sindsprev/RJ, Sepe-RJ e Sindipetro-RJ.
Casas do Pinheirinho são demolidas com pertences dentro
Segundo denúncias de movimentos sociais de São José dos Campos (SP) e do PSTU, divulgadas na tarde desta terça-feira 24, as casas do Pinheirinho estariam sendo derrubadas sem que os moradores possam retirar seus bens e pertences. Ainda de acordo com tais denúncias, muitos pertences de moradores teriam ‘desaparecido’ misteriosamente. Obrigadas a deixar suas casas sob tiros de bala de borracha, bombas de efeito moral e cassetetes, muitos moradores do Pinheirinho estão só com a roupa do corpo. Foi o que sobrou diante da barbárie promovida no último domingo pelo governo Alckmin (PSDB), com apoio da prefeitura tucana de São José dos Campos.