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26/01/2012 - Eldorado do Carajás e Pinheirinho: quando há mais semelhanças que diferenças entre os dois casos
Ambos têm em comum o fato de terem tratado as questões sociais como 'caso de polícia', como já é tradição no Brasil.

Por André Pelliccione

Por uma ‘estranha coincidência’ que, como veremos adiante, ‘não é mera coincidência’, neste janeiro de 2012 eu estou lendo a excelente reportagem do jornalista Eric Nepomuceno, que virou livro em 2007, com o título de ‘O Massacre’, na qual é contada a história de um dos maiores genocídios já praticados no Brasil: o fuzilamento de trabalhadores rurais sem-terra e lideranças do MST que bloqueavam uma rodovia nas proximidades de Eldorado do Carajás (PA), em protesto contra a lentidão do processo de reforma agrária conduzido pelo então presidente FHC. Naquele fatídico 17 de abril de 1996, como resultado de uma brutal ação da PM paraense ordenada pelo então governador tucano Almir Gabriel, 19 sem-terra morreram (muitos deles com corpos mutilados e irreconhecíveis) e dezenas de outros foram gravemente feridos, alguns com seqüelas para o resto da vida. 

Na dialética relação entre ‘vida’ e ‘arte’, incluindo-se nesta última a produção jornalística, uma imita a outra nessa tragédia diária que é a vida da classe trabalhadora numa sociedade capitalista, no Brasil ou no mundo. Mas o que Eldorado do Carajás tem a ver com o Pinheirinho? Antes que me questionem, respondo: tudo. E para isso não é preciso que se tenha sequer uma vítima fatal no Pinheirinho, uma que seja, embora ainda não saibamos, em toda sua extensão, as reais conseqüências da ação perpetrada pela PM nesse domingo (22/01). Não. Não é preciso. Afinal, a mecânica comum aos dois acontecimentos é a de que, no Brasil, as classes dominantes infelizmente ainda continuam tratando as questões sociais como ‘caso de polícia’, reproduzindo um modus operandi que remonta aos tempos da própria colonização, e que considera ‘crime’ qualquer luta por direitos ou por uma vida digna.

A ‘estranha coincidência’ que, no comparativo dos dois casos, ‘não é mais coincidência’, como já disse, está no fato de que ambos os massacres ocorreram sob governos tucanos, notórios pela brutalidade com que reprimem os trabalhadores Brasil afora, embora o uso da violência policial não seja monopólio do PSDB ou de qualquer outro partido representante da classe dominante (banqueiros, latifúndio, agronegócio, especuladores) no Brasil.

É essencial, neste momento, que as pessoas de bem, os movimentos sociais, a CSP Conlutas, os sindicatos e partidos políticos de esquerda, entre outras entidades da sociedade civil, denunciem, no Brasil e no exterior, a brutalidade dos acontecimentos que marcaram esse trágico domingo, 22 de janeiro. As agressões cometidas contra os moradores do Pinheirinho não podem passar em branco, não podem ficar impunes, sob pena de chancelarmos novas (e ainda mais brutais) ações contra a classe trabalhadora em nosso país.

 



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