05/11/2018 - Bolsonaro já fala em aprovar reforma da previdência ainda este ano
PEC adiará ou inviabilizará, caso seja aprovada, o direito à aposentadoria de milhões de trabalhadores brasileiros.
Eleito presidente da República há poucos dias, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) disse em entrevista que tentará aprovar a reforma da Previdência, a mais impopular proposta defendida pelo atual governo, ainda em 2018. O capitão reformado do Exército disse que entrará em contato com o presidente Michel Temer (MDB) para tentar aprovar a Proposta de Emenda Constitucional 287/2016 na íntegra ou ao menos em parte antes de assumir o cargo.
Como já sinalizavam alguns membros de sua equipe e apoiadores, Bolsonaro quer aprovar a reforma agora para evitar o desgaste de tal medida logo no início de seu governo. Pesquisas de opinião vinham indicando que a PEC 287 é extremamente impopular e rejeitada por mais de 70% da população. A PEC 287 tramita na Câmara dos Deputados desde 2016.
A PEC adiará ou inviabilizará, caso seja aprovada, o direito à aposentadoria de milhões de trabalhadores brasileiros. Além disso, resultará na redução total ou parcial de benefícios e do valor de quem conseguir se aposentar. A proposta já passou pelas comissões especial e de justiça. Está pronta para ser levada a voto no Plenário da Câmara dos Deputados. Aprovada, segue para o Senado Federal.
TV Record
As afirmações de Bolsonaro foram dadas em entrevista ao vivo à TV Record, na segunda-feira (29), dia seguinte às votações do segundo turno. Recém-eleito, ele passou o dia gravando entrevistas para órgãos de comunicação da mídia comercial. Além da TV Record, falou à TV Globo, ao Jornal da Band, ao SBT e à Rede Vida. A afirmação com relação à Previdência ocorreu na TV Record, que pertence ao bispo Edir Macedo, fundador da igreja evangélica Universal. Macedo declarou publicamente apoio a Bolsonaro. Foi o primeiro veículo a quem o presidente eleito concedeu entrevista e onde esteve por mais tempo, 33 minutos. Bolsonaro disse que as conversas neste sentido já começaram. "Muitos partidos vieram conversar comigo", afirmou.
Em outra recente declaração, a poucos dias do segundo turno, ele dissera que a reforma da Previdência precisava ser aprovada, mas que isso só seria possível caso fosse realizado em etapas e com mudanças paulatinas. Também vinha alegando que a proposta enviada pelo presidente Temer ao Congresso Nacional era ruim justamente por ser abrangente demais e, com isso, ser alvo de campanhas organizadas pela esquerda.
Na entrevista à Record, no entanto, não escondeu que gostaria de aprovar a proposta na íntegra. "Semana que vem estaremos em Brasília e tentaremos junto ao atual governo de Michel Temer aprovar alguma coisa. Senão toda a reforma da Previdência, ao menos parte, para evitar problemas para um futuro governo", disse.
Ameaças
Ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, Bolsonaro disse que a declaração sobre expulsar os militantes de esquerda e ativistas do país se referia a “dirigentes do PT e do PSOL”, e fora dada no calor da manifestação na av. Paulista. No domingo (21), uma semana antes da votação do segundo turno, o capitão reformado do Exército ameaçou em discurso expulsar do país ou colocar na cadeia militantes de esquerda, ativistas sociais e sindicalistas, caso não recuem das suas posições. Bolsonaro classificou essas atividades de militância política e social como ilegalidades. As ameaças foram associadas, nas redes sociais, ao slogan trabalhado pela ditadura empresarial-militar na década de 1970 com ares de patriotismo: “Ame-o ou deixe-o”.
O discurso foi transmitido via internet a apoiadores que se concentravam na av. Paulista. A transmissão partiu de sua casa, um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. Pausadamente, vestindo uma camiseta, Bolsonaro quase soletrou as palavras, interrompendo a fala algumas vezes para fazer sinais às manifestações dos apoiadores, aos quais observava por meio da tela de um celular exibido por um assessor. O modo como fez o discurso, longe de aparentar declarações intempestivas, demonstra que ele fora previamente decorado ou estava sendo repassado a ele por meio de um ponto de áudio no ouvido.
Militantes de partidos de esquerda, de organizações sociais e de sindicatos promoveram manifestações em mais de seis estados na terça-feira (30) nas quais afirmaram que, entre o exílio e a cadeia, há uma terceira possibilidade: organizar as mobilizações para defender direitos sociais, trabalhistas e democráticos.