O presidente Rafael Correa, do Equador, é hoje o inimigo número 1 da mídia hegemônica em função do litígio com a empreiteira Norberto Odebrecht, por sinal um grande anunciante e financiador de candidatos à Câmara dos Deputados e Senado. Correa entrou no index de falsos nacionalistas, os mesmos que em todos estes anos defenderam, e continuam defendendo, políticas econômicas que priorizam a entrega das riquezas do país.
A Odebrecht é apresentada como se fosse o Estado brasileiro. Na área parlamentar, os senadores Aloísio Mercadante, do PT, Heráclito Fortes, do DEM e Eduardo Azeredo, do PSDB, entre outros, aparecem nos noticiários das TVs defendendo enfaticamente a empreiteira que se beneficiou de contratos lesivos ao Equador e ainda por cima firmados por governos corruptos depostos por pressão popular. Diante disso, é o caso de esclarecer se estes políticos não receberam financiamento da Odebrecht em suas campanhas eleitorais.
Na verdade, o maior temor dos defensores da atual política econômica do governo brasileiro é a realização de uma auditoria das dívidas internas e externas contraídas nas últimas décadas e que teve o seu auge no governo anterior de Fernando Henrique Cardoso. Os acontecimentos no Equador remetem também a um dispositivo da Constituição brasileira de 1988 que prevê a realização da auditoria da dívida externa, nunca realizada por falta de vontade política, não só em âmbito do Congresso como dos sucessivos governos, inclusive o de Luiz Inácio Lula da Silva.
Correa simplesmente cumpriu uma promessa de campanha e por isso agora está sendo chamado de “caloteiro” pelos maiores veículos de comunicação brasileiros, comprometidos até a medula com o modelo econômico em vigor.
O governo Correa não deu calote em ninguém. Simplesmente ingressou na Corte de Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional para decidir a pendência com a Odebrecht. Um fato normal, como aconteceu no caso do metrô de São Paulo, onde o consórcio Via Amarela, da qual faz parte a Norberto Odebrecht, aceitou submeter o litígio a esta instância.
Outro ponto que elimina a acusação de calote é o pagamento pelo governo do Equador da primeira parcela da dívida de 12 milhões de dólares com a Odebrecht. A outra vence agora no final de dezembro. As alegações do governo do Equador para ir à Corte Internacional são fortes. Uma delas, e são muitas, garante que o Estado antecipou 112 milhões de milhões de dólares para a execução de um determinado projeto (Toachi-Platon), mas a Odebrecht até o momento só investiu sete milhões. Os restantes 105 milhões de dólares não foram explicados. Ao valor de 112 milhões, segundo ainda o governo equatoriano, soma-se 88 milhões de dólares de juros capitalizados sobre o crédito entregue pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção da usina elétrica de San Francisco, por 243 milhões de dólares, quantia esta que foi parar nos cofres da Odebrecht. Vale assinalar também que o dinheiro entregue a Odebrecht no Brasl pelo BNDES estava sendo administrado pela empresa ao seu livre prazer.
Portanto, é preciso deixar claro, o que não fez o governo Lula e a mídia hegemônica, que o BNDES não emprestou dinheiro algum ao Estado equatoriano, pois a legislação não permite o financiamento a governos estrangeiros. O BNDES apenas concedeu um financiamento à própria Odebrecht para que a obra fosse realizada. O Equador criou então uma empresa que se associou à Odebrecht, para viabilizar a operação financeira. Os pagamentos do governo equatoriano são feitos ao consórcio formado entre a empresa equatoriana e a brasileira, que os repassam ao BNDES. São parcelas de US$ 12 milhões cada uma. O governo Correa não tem de pagar ou deixar de pagar ao BNDES.Quem o faz formalmente é a Odebrecht.
O governo Lula, via Ministro Celso Amorim caiu na armadilha e se submeteu ao lobie da Odebrecht adotando uma posição que só confirma as críticas de opositores de esquerda, como o PSOL, segundo as quais a política externa de Lula acima de tudo favorece as grandes empresas nacionais, das empreiteiras a do agro-negócio. Ao retirar o embaixador brasileiro do Equador sob a alegação de que o governo Lula não tinha sido comunicado com antecedência do que seria feito contra a empresa acusada, o Ministro Celso Amorim simplesmente se submeteu ao lobie da Odebrecht.